Nunca aprendi a mergulhar de
cabeça, até tentei, mas logo o medo me atingia e eu sentia aquele "frio na
barriga" que me fazia perder a inclinação necessária e o máximo que
conseguia era meter o "buxo" n'água.
Até aprendi a nadar, principalmente na superfície das emoções, vez por outras dava alguns mergulhos mais profundos tentando encontrar o verdadeiro tesouro dos sentimentos, mas logo me faltava o ar e eu voltava à tona em desespero, sem fôlego e com medo da escuridão e da vastidão desconhecida daquelas profundezas.
A superfície é sempre o lugar
preferido e, aparentemente, mais seguro, pelo menos sabemos que ali somos
vistos, em caso de não nos acharmos, alguém poderá no encontrar de alguma
forma. Mas o problema é que aqui nosso corpo está rendido ao racional e tem
pouca visibilidade da realidade. Se você nada muito, enfrenta a correnteza,
apenas gasta suas forças e ainda assim estará na superfície. Nem a vastidão do
mar consegue enxergar, outros sentidos ficam inertes, pois apenas força física
está sendo utilizada e também desgastada.
Ah, mas como eu queria saber
mergulhar, bem fundo, entregar meu corpo à mobilidade e leveza que só quem se
deixa levar consegue sentir. Eu sei que nos primeiros metros talvez fosse
escuro e assustador, mas lindas imagens e grandes descobertas eu faria. Meus
olhos iriam brilhar de surpresa e de felicidade por haver tanto amor no fundo
do mar.
E as ondas e tempestades que eu
enfrentava me mantendo segura na superfície, certamente não as encontraria mais
abaixo daquele nível.
É sim, é preciso coragem para
mergulhar de cabeça, mas se entregar ao novo não é uma decisão fácil. Às vezes
a gente se joga, mas vai de colete, uma proteção que não te deixa afundar, mas
também não te deixa aprofundar-se, tirando tua liberdade e sensibilidade.
Um pouco de coragem, menos
técnica e fôlego, muito fôlego para conseguir desfrutar das aventuras que um
mergulho no interior da própria alma pode proporcionar.